Hino Nacional da República Rio-Grandense
Nobre povo rio-grandense,
Povo de heróis, povo bravo!
Conquistaste a independência
Nunca mais serás escravo.
Da gostosa liberdade
Brilha entre nós o clarão;
Da Constância e da Coragem,
Eis aqui o galardão.
Avante, ó povo brioso!
Nunca mais retrogradar
Porque atrás fica o inferno
Que vós há de sepultar
Da gostosa liberdade
Brilha entre nós o clarão;
Da Constância e da Coragem,
Eis aqui o galardão.
O majestoso progresso
É preceito divinal;
Não tem melhor garantia
Nossa ordem social
Da gostosa liberdade
Brilha entre nós o clarão;
Da Constância e da Coragem,
Eis aqui o galardão.
O mundo que nos contempla,
Que pesa nossas ações
Bendirá nossos esforços
Cantará nossos brasões
Da gostosa liberdade
Brilha entre nós o clarão;
Da Constância e da Coragem,
Eis aqui o galardão.
Este hino foi cantado pela primeira vez na tarde do dia 30 de Abril de 1839.
Havia, em Caçapava, capital da República, um sarau em comemoração à Tomada de Rio Pardo, ocorrida um ano antes. Era de praxe que ao início de uma comemoração oficial fosse executado o hino nacional. Estavam presentes as maiores expressões nacionais.
Cinco dias depois, 4 de Maio, saiu publicado no jornal O Povo, órgão oficial da República Rio-grandense, notícia daquelas comemorações, incluindo a letra deste Hino Nacional.
É preciso atentar que os dois últimos versos da segunda estrofe saiu publicado com a seguinte grafia:
"Porque atrás fica o inferno
Que vos há de sepultar".
Lendo desta forma observamos um sentido errôneo. Pois parece que o desejo do autor era que o "inferno" (ou seja, o império) que ficara para trás haveria, por fim, de os matar e sepultar. Colocando um acento na palavra "vós", então, compreendemos a verdadeira e boa intenção do autor em celebrar que tal inferno, além de ficar para trás, será devidamente enterrado e esquecido pelos cidadãos da nova República, mais condizente com o restante da letra.
Este hino acima, já foi resultado de uma modificação à letra original escrita por Serafim Joaquim de Alencastre, Chefe do Estado Maior do Exército. O estribilho ficou o mesmo. As mudanças são creditadas à Domingos José de Almeida, porém, sem comprovação histórica.
A letra de Alencastre era assim:
No horizonte Rio-grandense
Se divisa a divindade,
extasiada em prazer,
Dando viva à liberdade.
Estribilho
Avante, ó povo brioso,
nunca mais retrogradar.
Porque atrás fica o abismo
Que ameaça nos tragar.
Estribilho
Salve, ó Vinte de Setembro,
Dia grato e soberano,
Aos heróis continentistas,
Ao povo republicano.
Estribilho
Salve ó dia venturoso,
Risonho Trinta de Abril,
Que aos corações patriotas,
Enchestes de glórias mil
O "Trinta de Abril" é referência à data da Tomada de Rio Pardo (30/04/1838), acontecimento responsável pela prisão do maestro Mendanha, que compôs a música do Hino. Assim, ironicamente, Mendanha compõem um Hino, ao inimigo, que fala do acontecimento de sua prisão! Este primeiro hino foi executado ainda em Rio Pardo, com as vencedoras tropas republicanas perfiladas, apenas 5 dias após à Tomada.
A letra hoje conhecida do hino do Rio Grande do Sul, foi composta por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, originalmente com esta feitura:
Como a aurora precursora
Do farol da divindade,
Foi o Vinte de Setembro
O precursor da liberdade
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra;
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda terra.
Entre nós, reviva Atenas,
Para assombro dos tiranos.
Sejamos Gregos na glória,
E na virtude, Romanos.
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra;
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda terra.
Mas não basta prá ser livre
Ser forte aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo.
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra;
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda terra.
Como vemos, uma letra bem mais suave e condizente à nossa atual situação de "agregados" ao Brasil. A referência à "injustiça" da guerra é exemplar! A estrofe em negrito fora retirada do nosso hino, por decisão federal, durante o período do governo militar. Talvez não tenham gostado do sentido belicoso da "virtude romana"...
Ainda com relação ao nosso atual Hino, vale comentar a importância de sua primeira estrofe. Ela só foi poupada do "corte" da censura pelo entendimento tênue de que a revolta iniciada em Vinte de Setembro, tenha sido a "aurora precursora" da república brasileira, em Novembro de 1889. Uma aurora de 34 anos!
Mas nós, gaúchos de coração e espírito, sabemos: O Vinte de Setembro, uma revolta armada liderada por estancieiros descontentes, foi o início de um movimento que culminou com a Proclamação da República Rio-grandense, em 11/09/1836, nosso verdadeiro "farol da liberdade"!
Hoje apagado, sim, mas, cremos, temporariamente!
De qualquer forma, para aquele que acredita que nossa querida República Rio-grandense não morreu, mas sobrevive sob os escombros do atual "império" brasileiro, o Hino legítimo, e insubstituível, de nossa República ainda é aquele que diz:
Nobre povo rio-grandense,
Povo de heróis, povo bravo!
Conquistaste a independência
Nunca mais serás escravo.
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